A publicitária e blogueira Mila Guedes é idealizadora do blog Milalá, projeto que procura estimular pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida a passear e viajar.
No blog, ela relata suas experiências em viagens a diversos locais, no Brasil e no exterior, sempre avaliando os locais visitados quanto ao aspecto da acessibilidade, e apontando os recursos e facilidades disponíveis para pessoas com deficiência. Ela defende que a informação é fundamental para enfrentar os obstáculos que aparecem pelo caminho do viajante.
Mila convive há 22 anos com a esclerose múltipla, o que trouxe limitações à sua vida, mas não a impediu de conhecer diversos locais interessantes ao redor do mundo, acompanhada de “Julinha”, sua scooter elétrica.
Rede Mobilizadores – O que significa a falta de acessibilidade para uma pessoa com deficiência?
R. Significa ser diferente. No Brasil, tanto os direitos civis fundamentais, como o de ir e vir, quanto os direitos sociais – acesso à saúde, educação, trabalho, arte, cultura e lazer -, praticamente não existem para as pessoas com deficiência. São direitos básicos de todo cidadão, porém são ainda inalcançáveis para a grande maioria das pessoas com deficiência.
Rede Mobilizadores – Quais as principais dificuldades que um cadeirante encontra para viajar no Brasil? E no exterior?
R. No Brasil, sem dúvida, o acesso. Enquadram-se, principalmente, os aeroportos, os transportes, os hotéis, as ruas e as calçadas. Muitos dos nossos restaurantes e bares, lojas, farmácias e mercados também não estão preparados para nos receber. Nossa arte e cultura são muito ricas.
A maioria dos prédios recebe o deficiente físico muito bem, mas ainda deixa a desejar quanto às demais deficiências. Sinto falta de profissionais capacitados nos espaços. Sim, você encontrará um povo lindo no nosso país, que faz com que tudo isto fique mais leve, e até encontrará muitos lugares que oferecem estrutura para nos receber, mas o nosso país ainda é muito carente neste segmento.
Já em alguns países e cidades no exterior o cenário é completamente diferente. O acesso, que podemos traduzir como respeito ao cidadão, está no ar e faz toda a diferença. Você tem uma vida completamente livre e independente em vários lugares deste mundo.
Sim, alguns países têm problemas por questões de tombamento, principalmente na Europa, e outros apresentam pouco investimento em acessibilidade. Mas, mesmo assim, há muitos lugares maravilhosos e preparados para nos divertir.
Rede Mobilizadores – Das cidades que conheceu, acha que alguma tem realmente acessibilidade? Qual(is) e por quê?
R. Sem dúvida, Chicago nos Estados Unidos. Nesta cidade, tive a oportunidade não só de “sentir na pele” os benefícios da vida independente, mas de conhecer os bastidores de como fazem para serem totalmente bem-sucedidos e alcançarem sempre um resultado pra lá de positivos no acolhimento das pessoas com deficiência.
Quais os principais cuidados que um viajante com deficiência deve ter?
R. Planejar com antecedência a sua viagem é fundamental. Na minha opinião, além de ser delicioso, é imprescindível fazê-lo. Um mapeamento detalhado de informações sobre onde ficará e o que há por perto, tipo: se há estação acessível de metrô, é muito valioso para aproveitar bem a viagem.
Outro ponto é preparar-se para o voo. Se utiliza sonda, qual a melhor sonda. Se utiliza algum medicamento específico, viajar com ele para o período que estará fora e com as devidas receitas e prescrições médicas. É importante, também, ter um bom seguro saúde que o atenda no exterior, levar os contatos de seus médicos, levar os carregadores e adaptadores para aqueles que utilizam cadeiras motorizadas (em muitos países a tomada requer adaptador), fazer antecipadamente o seu roteiro de viagem e programar-se com as informações de acessibilidade do local onde estará.
Oops, quanto mais informação, melhor será a sua viagem. Hoje no Brasil já contamos com agências de viagens especializadas para pessoas com deficiência.
Entrevista concedida à: Eliane Araujo
Editada por: Sílvia Sousa
eu tes tol gostado muito docusor fa deua estoria vedadeira
Verdade… Os direitos existem, as leis estão aí… mas na prática é como se a pessoa com deficiência ou seus familiares, estivessem pedindo um favor, o de ser atendido! E o servidor, principalmente o público, acredita que esta fazendo uma boa ação e se vangloria quando atende… Que frustrante isso…