Alênicon Pereira de Souza, da comunidade COEP de Redondo, situada em Cachoeira dos Índios, na Paraíba, está mobilizando os moradores para realizar ações culturais e educativas, como a instalação de um cineclube, a promoção de rodas de leitura e a realização de oficinas de informática; promover caminhadas visando à melhoria da saúde; incentivar o surgimento de novas lideranças comunitárias. Ele afirma que essas ações visam, sobretudo, despertar um sentimento de pertencimento à comunidade e fortalecer a ideia de que, unidos, os moradores poderão fazer mais pela comunidade e por eles mesmos.
A comunidade de Redondo está localizada no trecho das obras do projeto de transposição do Rio São Francisco e será inundada com a construção de uma represa. Com isso, várias pequenas propriedades estão sendo desapropriadas e os moradores serão realocados numa vila a ser construída em local ainda não definido. Diante desse quadro, Alênicon afirma que os moradores ainda estão desarticulados para reivindicar seus direitos, o que demonstra a necessidade de maior capacitação e conscientização política.
Iniciativas como a de Alênicon fazem parte da proposta do Mobcidadania, uma estratégia lançada pela Rede Mobilizadores para incentivar o desenvolvimento de ações coletivas ou de mobilização social que visem enfrentar problemas sociais e comunitários, melhorar a qualidade de vida e defender direitos.
A definição das ações coletivas a serem realizadas e da estratégia a ser adotada são debatidas em grupos criados no Facebook. Por meio de reuniões virtuais, os integrantes do grupo decidem o que é preciso para colocar as ideias em prática. Todo o processo é registrado pelo administrador do grupo na página do Mobcidadania (www.mobilizadores.org.br/mobcidadania) e todos os participantes e demais interessados podem acompanhar o desenvolvimento das atividades no site.
Rede Mobilizadores – Qual a proposta do seu grupo para o Mobcidadania?
R.: Queremos envolver toda a comunidade nesse processo de mobilização. Acredito que alguns recursos importantes de que já dispomos, a exemplo do telecentro e da biblioteca, oferecem inúmeras possibilidades para a conscientização política, para a promoção e difusão do conhecimento e para o estímulo à criatividade. No entanto, esses potenciais ainda não estão sendo bem aproveitadas pela população. Percebo também que, ao longo dos anos, temos uma dificuldade imensa em despertar lideranças e formar representantes, por isso, essas ações serão pensadas para unir a comunidade e inspirar os jovens.
Rede Mobilizadores – Quais suas expectativas em relação a essa proposta?
R.: Esperamos que essas ações possam despertar um sentimento de pertencimento à comunidade e fortalecer a ideia de que juntos nós podemos fazer algo pelo nosso lugar e por nós mesmos. Algo que, mesmo simples, possa contribuir para a qualidade de vida, para aprimorar a relação de cooperação entre os vizinhos.
Rede Mobilizadores – O grupo já pensou em algumas ações para desenvolver? Quais?
R.: Planejamos formar um de grupo de caminhada, para incentivar as pessoas a cuidarem mais da saúde, especialmente os hipertensos e diabéticos. Pensamos também em criar um cineclube, promover rodas de leitura e fazer oficinas de informática para as pessoas da comunidade que ainda não costumam utilizar o telecentro.
Rede Mobilizadores – Que estratégias vocês pretendem usar para atrair novas pessoas para o grupo?
R.: Estamos convocando através das redes sociais mesmo. Como nem sempre posso estar presente na comunidade com a frequência que gostaria, grande parte da mobilização tem sido virtual. Mas pretendo acompanhar de perto essas ações quando estiver de férias.
Rede Mobilizadores – Você já trabalhou com iniciativas sociais/ ambientais em outros momentos? Em caso afirmativo, o que fez?
R.: Participei dos movimentos da própria comunidade, como grupo de jovens e do conselho administrativo da igreja católica local e venho, há alguns anos, participando da diretoria da associação comunitária.
Rede Mobilizadores – O que te motiva a atuar na área social/ambiental?
R.: Tenho um grande interesse por política. Acredito que tentar compreender de alguma maneira o que está acontece na sociedade pode ser um exercício instigante. Sempre que posso, converso com as pessoas da comunidade e quase sempre nos damos conta de que é possível contribuir para transformar a realidade e que as nossas ações podem fazer a diferença.
No momento, o que nos preocupa é o processo de desapropriação das pequenas propriedades por causa do projeto de transposição do Rio São Francisco. A nossa comunidade está no trecho das obras e será inundada com a construção de uma represa. É uma experiência muito desagradável, pois mais de um século de história e luta do nosso povo ficará debaixo d água.
Participei apenas de uma reunião e observei que o critério de avaliação adotado pelo governo desvaloriza as casas e terrenos ao oferecer, como indenização, um valor muito reduzido, que sequer permite que as pessoas possam comprar algo equivalente em outro lugar. Sem alternativa, serão obrigados a aceitar uma relocação para uma vila a ser construída em local ainda não definido. O estado que lhes negou muitos direitos ao longo dos anos, vem agora de maneira arbitrária se apropriar do que os agricultores construíram. Eu considero uma situação muito injusta, mas infelizmente ainda estamos desarticulados para reivindicar nossos direitos.
Entrevista concedida a: Eliane Araujo
Editada por: Sílvia Sousa