O município paulista de Ribeirão Branco, situado no Vale da Ribeira, é um dos maiores produtores de tomate de mesa do país e tem convivido com a substituição da agricultura familiar pelos grandes empreendimentos do agronegócio e a crescente contaminação por agrotóxicos.
Graduado em Serviço Social pela Unesp de Franca e bolsista de Treinamento Técnico da Fapesp na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Robson Jesus Ribeiro relata, no livro “Os amargos frutos do trabalho brutal”, os resultados de uma pesquisa de campo realizada durante quatro anos com trabalhadores da tomaticultura da região.
Ele demonstra que na região é elevada a intoxicação ocupacional por agrotóxicos, principalmente das mulheres, que segundo o pesquisador são as principais vítimas. A intoxicação ocupacional se dá pelo contato direto com o produto químico nas atividades laborais. Robson traça ainda um perfil das intoxicações, mostrando como elas ocorrem e a forma com que o poder público lida com essas questões.
O autor é um dos integrantes do grupo “Agrotóxicos: impactos e alternativas”, criado pela Rede Mobilizadores no Facebook para debater o tema e incentivar ações concretas de combate aos agrotóxicos e promoção da produção agroecológica.
Nessa entrevista à Rede Mobilizadores, Robson Ribeiro conta mais detalhes a pesquisa que realizou:
Rede Mobilizadores – O que o motivou a escrever o livro “Os amargos frutos do trabalho brutal”?
R. Eu nasci em Ribeirão Branco, município localizado no interior do estado de São Paulo que integra o Vale do Ribeira. Nesse sentido, tenho um conhecimento empírico dos modos de vida no “Ramal da Fome”1. Sempre vi muita riqueza, pois somos uma das regiões na qual a economia é baseada na agricultura e berço da alimentação do país, mas, por outro lado, vivenciamos a fome, falta de acesso a políticas públicas básicas e a questão que norteia meu livro, a morte prematura de crianças e adolescentes e a dor de doenças ligadas ao modo produtivo praticado na região. Quando fui fazer Serviço Social eu queria resposta para essas questões.
Rede Mobilizadores – Qual o perfil dos trabalhadores entrevistados? Como foi feita a pesquisa?
R. Os trabalhadores que encontrei ao longo dos quatro anos de pesquisa eram majoritariamente analfabetos; os poucos que liam eram analfabetos funcionais. A maioria é da agricultura familiar e, atualmente, vende sua força de trabalho para grandes empresas. Só entrevistei um trabalhador homem, até pensei em colocar no título do livro saúde da trabalhadora. Esse é um fato curioso, pois nas informações oficiais sobre intoxicação tinha pouquíssimas mulheres, quando fui a campo vi que elas eram maioria. Defendo a tese de que são as maiores vítimas.
Rede Mobilizadores – Quais os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais e seus familiares da região do Vale do Ribeira em função do uso de agrotóxicos?
R. O Vale atualmente está imerso em doenças ocupacionais, doenças essas advindas de todos os tipos de trabalho praticados na região. Seja a mineração, o agronegócio, etc. Tivemos no Vale um dos maiores desastres ambientais decorrentes da mineração do chumbo. Até hoje, a região vive as perdas advindas desse processo.
Tudo que funciona no espaço urbano, no Vale não existe ou é insuficiente, como energia elétrica, estradas pavimentadas, saneamento básico, saúde, educação. Lá ainda existem muitas escolas onde os alunos do 1º ao 5º ficam todos na mesma sala com um único professor. Pesquisas do IBGE mostram que a população da região está diminuindo, pois, a partir dos 15 anos, os jovens começam a abandonar a região.
Em Ribeirão Branco, vivemos o auge da agricultura familiar, mas, atualmente, as grandes empresas tomaram conta do cenário e com elas vieram os agrotóxicos.
Rede Mobilizadores – Quais os principais agravos à saúde constatados em sua pesquisa?
R. Abortos, câncer de próstata, diversos quadros de demências, má formação fetal, linfomas são doenças que fazem parte da vida no Vale. Se você perguntar na rua, logo as pessoas apontarão quem convive com algum desses agravos.
Rede Mobilizadores – Quais as principais culturas agrícolas de Ribeirão Branco e o porte das propriedades rurais produtoras? O uso de agrotóxicos é predominante?
R. Ribeirão Branco produz o tomate que alimenta todo o estado de São Paulo e boa parte do país. Produzimos o tomate de mesa, esse que é usado em saladas in natura, e também feijão, soja e milho. As terras para produção são majoritariamente arrendadas e, atualmente, o cenário é de agriculturas de grande extensão. Me deparei com inúmeros agrotóxicos já proibidos no país sendo utilizados lá, o cenário é alarmante.
Rede Mobilizadores – Você percebeu interesse dos produtores rurais em fazer uma transição para cultivos agroecológicos? Quais as principais dificuldades para que isso aconteça?
R. Existe uma descrença e um desconhecimento enorme sobre o cultivo agroecológico, fato que atribuo principalmente à falta de conhecimento. A internet é precária, funciona às vezes; os profissionais da educação nunca abordam essas questões em sala de aula, não existem bibliotecas com livre acesso para a população. A primeira informação que passou pela cabeça dos trabalhadores quando abordei essa questão foi do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], num programa exibido pela Globo, um dos únicos canais com sinal bom captado pelas antenas parabólicas locais.
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1 Ramal da Fome – a região sudoeste paulista é conhecida como “ramal da fome”, por ser a a mais pobre do estado de São Paulo, apesar da presença de grandes lavouras, florestas e agroindústrias.
Entrevista e edição: Eliane Araujo
Revisão: Sílvia Sousa
uma região com muitas riquezas na agricultura ;mais infelizmente o agrotóxico toma conta da saúde das pessoas.o pouco do dinheiro que ganham não tem nem tempo e saúde para o usofluir..parabéns pela materia e pelo livro ..robson de jesus ribeiro