Milhões de pessoas vivem em regiões em que os níveis dos reservatórios estão abaixo do normal e a quantidade de chuvas é menor que a média histórica.
Ao longo de 2014, a seca levou 1.265 municípios de 13 estados do Nordeste e do Sudeste a decretarem situação de emergência, de acordo com dados do Ministério da Integração Nacional. Hoje, 936 cidades estão nessa situação.
Racionamento, problemas de abastecimento ou reservatórios em níveis de alerta já são realidade em cinco das dez maiores regiões metropolitanas do país.
Diante desse cenário de crise hídrica, Glauco Kimura de Freitas, especialista em Recursos Hídricos e coordenador do Programa Água para a Vida do WWF-Brasil, analisa, entre outros aspectos, as principais causas do problema, os impactos do racionamento de água na vida dos cidadãos, e as medidas que a agricultura, indústria e os consumidores domésticos devem adotar com urgência para economizar esse recurso.
Glauco Kimura de Freitas é biólogo e atuou como gerente do Programa Aliança dos Grandes Rios pela The NatureConservancy. Tem experiência na área de Biologia Geral, com ênfase em Biologia da Conservação, atuando principalmente no manejo e controle de espécies invasoras; Cerrado; Pantanal; regimes hidrológicos naturais em rios; conservação de ecossistemas aquáticos e sua adaptação às mudanças climáticas.
Rede Mobilizadores– Na sua avaliação, quais as principais razões da crise hídrica que o país está vivendo?
R: Má gestão por parte dos órgãos responsáveis, dois anos consecutivos de seca atípica, falta de preservação de mananciais e de medidas concretas de combate ao desperdício de água tratada.
Rede Mobilizadores – Em São Paulo, o governo admite a possibilidade de racionamento de água e fala de um rodízio de abastecimento durante cinco dias da semana, e dois sem rodízio. Que impactos isso pode provocar na rotina dos cidadãos, da cidade e das indústrias?
R.: Para os cidadãos interfere de forma muito negativa no seu dia-a-dia, principalmente daqueles que moram em regiões mais altas onde a água acaba primeiro e é dos últimos lugares a voltar. Ou seja, a condição de até cinco dias semanais sem água afeta até mesmo a dignidade das pessoas.
Mas a cidade como um todo pode ser impactada pela redução do movimento do comércio, interrupção de serviços de lazer, desaceleração da economia e desemprego. Algumas empresas estão migrando suas fábricas para outras regiões sob menor grau de risco hídrico no Paraná e Mato Grosso, por exemplo.
Rede Mobilizadores – Sabemos que 10% da água abastecida são destinadaa ao uso doméstico, 20% à indústria e 70% à agricultura. Como tornar a agricultura e a indústria mais sustentáveis no uso da água? Que medidas deveriam ser adotadas com mais urgência?
R.: A agricultura precisa inovar com técnicas mais eficientes de irrigação. Para ser mais sustentável deveria empregar métodos de irrigação localizada, como por exemplo, o gotejamento e a microaspersão. Embora tenham um custo inicial mais alto e requeiram mudanças no tipo de trato do solo e sementes, são mais conservadores de água porque a distribuem de forma lenta, uniforme e diretamente na zona radicular.
Já na indústria, onde os processos normalmente são de circuito fechado e por isso mais controláveis, as fábricas e unidades de produção precisam investir em medidas de reuso e em plantas próprias para tratamento de efluentes.
Portanto, o que é mais urgente para a agricultura é coibir o desperdício e a ineficiência, de fato reduzindo a aspersão (pivô central), ou mesmo a interrompendo em casos mais extremos; e para o setor industrial cabe instaurar a tecnologia de reuso de água imediatamente.
Rede Mobilizadores – E quanto ao consumo doméstico, quais medidas deveriam ser implementadas para reduzir o consumo e mudar hábitos?
R.: Nas residências, além de hábitos básicos como não se barbear e escovar os dentes com a torneira aberta ou tomar banhos muito prolongados, reutilizar a água da máquina de lavar para regar as plantas, a água do banho para a descarga e acumular de forma adequada a água das chuvas, são medidas que levam a redução do consumo.
Rede Mobilizadores – Relatório do governo federal divulgado recentemente mostra que 37% da água tratada para consumo é perdida antes de chegar às torneiras da população, especialmente por falhas nas tubulações, fraudes e ligações clandestinas. Como mudar esse quadro? Como a população pode ajudar a fiscalizar e cobrar soluções das autoridades?
R.: As autoridades responsáveis pelo abastecimento devem investir na reforma das tubulações antigas (no caso de São Paulo alguns pontos possuem mais de 40 anos); além de fiscalizar e combater seriamente as ligações clandestinas e promover campanhas de redução de consumo e uso racional da água.
A população deve sempre denunciar vazamentos e fraudes na rede, consertar vazamentos em suas casas, além de se conscientizar de que o consumidor também é responsável por gerir os problemas hídricos das grandes cidades sendo, portanto, parte da solução.
Rede Mobilizadores – A Lei de Recursos Hídricos define que a governança da água deve ser por bacias, por meio dos Comitês de Bacias. Esses comitês estão operando bem? Qual o papel deles nesse momento de crise hídrica que o país está enfrentando?
R.: Infelizmente, dos cerca de 200 comitês de bacias (estaduais ou federais) instaurados no Brasil, no máximo 15% operam bem. O comitê de bacia é o espaço onde a sociedade civil possui voz quanto à gestão dos recursos hídricos.
No momento atual de crise hídrica nacional, devem, além de viabilizar a cobrança pelo uso da água dos usuários da bacia (mecanismo previsto em lei), exigir a rápida implementação de medidas emergenciais, tais como, reuso, redução do consumo e interrupção da renovação ou emissão de novas outorgas de uso da água.
Entrevista concedida à: Eliane Araujo
Editada por: Sílvia Sousa
Para os cidadãos interfere de forma muito negativa no seu dia-a-dia,mas a cidade todos podem ser impactado pelo redução do movimento do comércio. Nos residência, além de habitas básicos como não se barbeia e escova os dentes com a torneira aberta ou tomar banhos muitos prolongados.são medidas que levam a redução do consumo.