Pesquisa realizada pela pedagoga e psicóloga Denise D’Aurea Tardeli, do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), indica baixos índices de solidariedade entre os adolescentes e mostra que as escolas de ensino médio estão deixando a desejar nessa formação. A pesquisa, realizada para uma tese de doutorado, visou avaliar a formação da personalidade moral de adolescentes, principalmente no que se refere à solidariedade.
Os resultados indicam baixos índices de solidariedade e de inserção social entre os adolescentes e mostram que as escolas de ensino médio estão deixando a desejar nessa formação. O estudo foi aplicado a 396 adolescentes, de ambos os sexos, com idades entre 16 e 18 anos, alunos do 3º ano do ensino médio de duas escolas particulares de grande porte, voltadas para a classe média, das cidades de São Paulo e Santos. A solidariedade foi “escolhida entre outras virtudes por ter origem pública, política e interativa, que implica retorno”, diz Denise Tardelli.
A pesquisadora queria saber se os adolescentes tinham consciência de que a solidariedade ? como ajudar pessoas sem esperar nada em troca e participar de projetos sociais ? é necessária e deve estar presente nos projetos de vida. “Índices maiores são fundamentais para que a sociedade futura tenha adultos conscientes, com autonomia moral e atuantes”, afirma Denise D’Aurea Tardeli,
O teste aplicado, PROM (Prosocial, Reasoning Objective Measure), envolvia três histórias hipotéticas com manifestação de ajuda ao outro e um relato, escrito pelos próprios adolescentes, sobre como eles se viam daqui a dez anos, comparando o hoje com o amanhã.
A análise dos relatos indicou índices de projeção solidária menores do que os esperados pelos parâmetros do teste aplicado. “Nesta fase, os adolescentes já deveriam ter construído valores morais mais fortes, o que mostra uma imaturidade egoísta”, explica Denise. “Eles apresentam a necessidade de interagir com outras pessoas, mas somente com aquelas que já conhecem, como família, amigos e namorados.”
Todos os adolescentes apresentaram interesse em ter um trabalho, alguns com intenção materialista. Na direção contrária, poucos mostraram querer fazer algo para tornar o mundo melhor, com um ímpeto muito pequeno para a transformação social. As meninas apresentaram características de pró-solidariedade ligeiramente maiores que os meninos. “Os adolescentes estão muito centrados neles mesmos, um reflexo do medo e da própria sociedade”, conta a pesquisadora. Ela relata que uma maior manifestação de solidariedade somente foi mostrada na situação de humilhação de um colega na escola. “Além disso, é possível ver a emergência de novos valores, a transformação das famílias, o exercício da cidadania sendo apagado.”