Para especialistas em educação ouvidos em audiência pública, no Senado, dia 6 de dezembro, escolas e educadores devem assumir a responsabilidade pela socialização dos alunos e zelar pelo desenvolvimento de valores humanos nas escolas, para construir ambientes educativos “emocionalmente seguros” livres da prática de bullying. “A chave é levar escolas e professores a assumir responsabilidade pela socialização dos alunos e prevenir o bullying mediante a imediata intervenção, pela conversa, debate e negociação”, afirmou a professora emérita da Universidade de Brasília (UNB) Angela Uchoa Branco, coautora do livro Bullying – Escola e família enfrentando a questão.
Segundo ela, casos de agressão e intimidação ocorridos entre alunos exigem atenção e monitoramento contínuo por parte das instituições de ensino e refletem a violência presente no conjunto da sociedade, estimulada por valores como individualismo, competição e intolerância. “Será que estamos reforçando a socialização no sentido da violência, da agressividade, da competição e do individualismo, ou estamos criando condições novas que gerem outro tipo de relação entre as pessoas? Nossa cultura é extremamente violenta. Todos nós experimentamos esse tipo de violência”, questionou.
Em contraposição, pais e professores devem estimular relações baseadas na cooperação e na empatia, dando exemplo de que a colaboração é o melhor caminho para a resolução de conflitos. Casos de hostilidade, humilhação e perseguições sistemáticas de alunos contra colegas provocam, segundo ela, uma “lista infindável” de consequências, como isolamento social, baixa autoestima, dificuldade de aprendizagem, evasão, depressão, automutilação e até mesmo ideias indutoras de suicídio ou homicídio.
A audiência foi realizada a pedido da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP). Ela ressaltou pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Alunos que constatou que, no Brasil, 7,5% dos estudantes disseram sofrer alguma das formas de bullying “algumas vezes por mês”; 7,8% disseram ser excluídos pelos colegas; 4,1%, serem ameaçados; e 3,2%, empurrados e agredidos fisicamente.
Já a procuradora de Planaltina (DF) Isabella Banna, autora do livro Bullying, Homofobia e Responsabilidade Civil das Escolas, destacou que o Brasil conta, desde 2015, com com a Lei 13.185, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), mas sem ser aplicado devidamente. Segundo ela, a maioria das escolas ainda desconhece a legislação.
“São poucas as escolas que aderem ou possuem programa de combate à intimidação sistemática. Quando possuem algum tipo de medida, são pontuais, e em razão do próprio dano. O dano já está instaurado. Não há nada que se faça anteriormente à prática”, afirmou.
Também participaram do debate a presidenta da Associação pela Saúde Emocional das Crianças, Tania Paris, além de um diretor e outro professor de escolas do entorno de Brasília, que ressaltaram a importância da prevenção, já que o bullying é um tipo de “violência silenciosa” só percebido quando as consequências “nefastas” já são sentidas.
Marta criticou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, em setembro, autorizou o ensino religioso obrigatório nas escolas públicas. “É um espanto colocar religião como matéria, num país laico, como ensino obrigatório. Agora, querem introduzir sexualidade na aula de religião. Quer dizer, é tudo ao contrário do que se tem que fazer em educação.”
Fonte: Rede Brasil Atual
Os números são impressionantes, um em cada dez estudantes no Brasil é vítima freqüente de bullying, de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).Os dados do relatório relatam que 17,5% dos alunos brasileiros, na faixa etária dos 15 anos, já sofreram algum tipo de bullying e isso pelo menos duas vezes no mês. Estas crianças ou adolecentes são alvo de piadas e boatos maldosos, além de serem excluídos pelos colegas.
Segundo Alexandrina Meleiro, coordenadora da Comissão de Estudo e Prevenção ao Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria, estudos mostram que casos de ansiedade e depressão podem estar relacionados ao bullying, destaca que ele massacra aos poucos a autoestima e isso favorece no desenvolvimento destes quadros e principalmente o da depressão. Há estudos internacionais que mostram que pessoas vítimas de bullying são mais suscetíveis a desenvolver quadros depressivos.
Desde a lei que obriga escolas e clubes a adotarem medidas de prevenção e combate o bullying por meio da capacitação de professores e equipes pedagógicas. A lei ainda estabelece que seja oferecida assistência psicológica, social e jurídica às vítimas. Mas apesar desse todo aparato jurídico, tanto professores quanto as escolas ainda estão longe do ideal segundo estatísticas. Uma pesquisa nacional sobre bullying, mostrou que a maior parte do problema, cerca de 21% dos casos, ocorre nas salas de aula, mesmo com os professores presentes. O estudo feito pelo Centro de Empredorismo Social e Administração em Terceiro Setor, mostrou este grande despreparo das escolas e dos professores. Há uma necessidade real e urgente de solucionar e colocar em vigor ações concretas pelas áreas gestoras competentes para solucionar este mal que vem acometendo nossos estudantes.