Para celebrar o Dia Mundial da Alimentação 2016, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) escolheu como tema “O clima está mudando. A alimentação e a agricultura também”. Isso porque as mudanças climáticas poderão deixar mais de 122 milhões de pessoas na pobreza e tornam ainda mais difícil o desafio de alimentar uma população mundial que cresce de forma constante e deve chegar a 9,6 bilhões até 2050.
Para atender a essa demanda, sistemas alimentares terão de se adaptar aos efeitos adversos das alterações climáticas e tornar-se mais resistentes, produtivos e sustentáveis. No entanto, os pequenos agricultores familiares do mundo – que produzem a maior parte dos alimentos que consumimos – estão entre os mais afetados pelas altas temperaturas, as secas e os desastres relacionados a uma meteorologia adversa relacionada às mudanças climáticas.
Por isso, a FAO pede aos países para abordar a alimentação e a agricultura em seus planos de ação climática e investir mais no desenvolvimento rural. De acordo com a organização, ao fortalecer a resiliência dos pequenos agricultores, podemos garantir a segurança alimentar para a população global e reduzir as emissões de gases poluentes. Para isso, é necessário que os sistemas alimentares se adaptem aos efeitos climáticos adversos, tornando-se mais resistentes, produtivos e sustentáveis.
A maior produtividade e sustentabilidade pode ser atingida adotando-se práticas que produzem mais com menos recursos, usando os recursos naturais racionalmente. Implica, também, reduzir as perdas em todas as etapas de produção do alimento até a entrega ao consumidor, o que inclui maior cuidado com colheita, armazenagem, embalagem, transporte, infraestrutura, mecanismos de mercado e até mesmo com quadros institucionais e legais.
É fundamental, ainda, que cada um faça sua parte. Governos precisam investir em pequenos agricultores e no desenvolvimento sustentável da produção de alimentos. Os cidadãos precisam ser consumidores conscientes e éticos, mudando algumas atitudes simples do dia a dia: desperdiçando menos comida, substituindo o consumo de carnes por leguminosas, como feijão, lentilha e outras fontes de proteína vegetal, privilegiando os produtos da agricultura familiar e da agroecologia.
Relatório da FAO
No dia 17 de outubro, a FAO divulgou o relatório O estado da Alimentação e da Agricultura, o qual sublinha que, se não houvesse alterações climáticas, a maioria das regiões deveria reduzir o número de pessoas em risco de pobreza até 2050.
No entanto, com as mudanças no clima e se nada for feito estima-se que entre 35 e 122 milhões de pessoas entrem para a faixa de pobreza. Isto deve-se sobretudo aos impactos negativos do aquecimento global no setor agrícola.
Os mais afetados seriam as populações nas zonas mais pobres da África subsaariana e do Sul e Sudeste Asiático, especialmente os que dependem da agricultura para viver.
O diretor-geral da organização, José Graziano da Silva, defende que a fome, a pobreza e as alterações climáticas têm de ser abordadas em conjunto, “por um imperativo moral, porque aqueles que hoje mais sofrem são os que menos contribuíram para as alterações climáticas”.
O relatório da FAO recorda que para manter o aumento da temperatura global abaixo do teto de 2°C, as emissões de gases de efeito estufa terão de diminuir 70% até 2050, o que só será possível com o contribuição dos setores agrícolas.
Estes setores são responsáveis por, pelo menos, um quinto de todas as emissões, principalmente devido ao desmatamento para converter florestas em terra cultivada e também devido à pecuária e à produção agrícola.
No entanto, escrevem os autores, os setores agrícolas enfrentam um duplo desafio: reduzir as emissões de gases de efeito estufa ao mesmo tempo e aumentar a produção de alimentos para saciar uma população crescente e cada vez mais rica.
Estima-se que a procura global por alimentos em 2050 seja pelo menos 60% maior do que em 2006, mas o crescimento populacional será concentrado nas regiões onde hoje já há maior prevalência de subnutrição e maior vulnerabilidade às alterações climáticas.
O relatório reconhece que reformular a agricultura e os sistemas alimentares será um processo complexo, devido ao vasto número de partes envolvidas, à multiplicidade dos sistemas agrícolas e de produção alimentar e às diferenças nos ecossistemas.
No entanto, alerta, os esforços têm de começar agora, porque os impactos das alterações climáticas só piorarão com o tempo e se nada for feito os países mais pobres terão, no futuro, de enfrentar simultaneamente a fome, a pobreza e as mudanças climáticas.
Nas palavras de Graziano da Silva, “os benefícios da adaptação ultrapassam os custos da inação com margens muito grandes”.
A data
O Dia Mundial da Alimentação é comemorado no dia 16 de outubro e foi criado com o intuito de desenvolver uma reflexão a respeito do quadro atual da alimentação mundial e principalmente sobre a fome no planeta. A data foi escolhida para lembrar a criação da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) em 1945.
O Dia Mundial da Alimentação traz temas que nos fazem pensar a respeito da população de baixa renda, sua segurança alimentar e nutrição. Entende-se por segurança alimentar uma alimentação saudável, acessível, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente. Essa realidade, infelizmente, não é vivida por uma grande parte da população brasileira e mundial.
A cada ano um tema é escolhido e, a partir dele, diversas atividades artísticas, esportivas e acadêmicas vão sendo realizadas ao redor do mundo.
Fontes: FAO Brasil, Rede Nutri