Em pronunciamento neste 17 de outubro, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo vivem na miséria e não conseguem atender às suas necessidades básicas. Cobrando que países “não deixem ninguém para trás” em seus esforços de desenvolvimento, o chefe da ONU ressaltou que eliminar a pobreza “não é uma questão de caridade, mas de justiça”.
Em 2018, a data mundial completa 25 anos desde a primeira vez em que foi observada pelas Nações Unidas. De lá para cá, “quase 1 bilhão de pessoas saíram da pobreza, graças à liderança política, ao desenvolvimento econômico inclusivo e à cooperação internacional”, acrescentou Guterres.
A eliminação da pobreza é a meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 1, que defende a implementação de sistemas de proteção social.
“Há uma conexão fundamental entre a erradicação da extrema pobreza e a garantia de direitos iguais para todas as pessoas”, ressaltou o secretário-geral, lembrando que em 2018, a Declaração Universal dos Direitos Humanos comemora seu aniversário de 70 anos.
“Temos de construir uma globalização justa que crie oportunidades para todos e garanta que o rápido desenvolvimento tecnológico impulsione nossos esforços de erradicação da pobreza. Nesse Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, vamos nos comprometer em garantir a promessa central da Agenda 2030 para não deixar ninguém para trás”, concluiu Guterres.
UNESCO defende acesso à educação básica
Também por ocasião da data, a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, defendeu que a educação básica é uma “ferramenta poderosa” para diminuir as desigualdades sociais e garantir oportunidades de crescimento para todos.
“Hoje, estima-se que 635 milhões de pessoas ainda vivem na pobreza extrema, o que corresponde a mais de 8% da população mundial. A maior parte dessas pessoas vive no Sul da Ásia e na África Subsaariana”, alertou a dirigente da agência da ONU.
Na avaliação de Azoulay, é necessário “promover empregos sustentáveis” e uma formação educacional ampla para a população.
“A educação deve abordar questões relacionadas a saúde, sexualidade, igualdade de gênero e desenvolvimento sustentável, a fim de romper o círculo vicioso de costumes sociais e percepções coletivas que perpetuam a desigualdade. A UNESCO, a agência líder das Nações Unidas para a educação, enfoca seus esforços especialmente na educação de meninas, como uma força motriz para a paz e o desenvolvimento”, explicou a autoridade máxima da agência.
“É essencial que cada país forneça proteção social a seus cidadãos, para protegê-los das muitas incertezas socioeconômicas em um mundo em constante mudança. A educação é uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento: é fundamental que todas as crianças – meninos e meninas – recebam 12 anos de educação básica”, completou a chefe da UNESCO.
ONU: pobreza tem várias dimensões
Nesse dia internacional, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) decidiu conscientizar o público sobre as diferentes faces da miséria. Segundo o organismo internacional, a pobreza não diz respeito apenas à renda de uma pessoa ou família — pessoas são consideradas pobres quando vivem com menos de 1,90 dólar por dia.
O PNUD trabalha com o conceito de pobreza multidimensional, que avalia formas diversas de privação de direitos e serviços. As crianças estão frequentando a escola? As famílias têm acesso a instalações de saúde? As comunidades estão com eletricidade regular ou têm redes de água potável e saneamento? Essas são algumas perguntas que ilustram como a miséria se manifesta para além dos salários.
“Embora centenas de milhões de pessoas tenham ultrapassado a linha da pobreza, ainda não estamos alcançando todos: 1,3 bilhão de pessoas ainda vivem em pobreza multidimensional, o que significa que elas não são apenas pobres em termos de renda, também lhes falta saúde, educação e padrões (mínimos) de vida. Elas correm o risco de ficar ainda mais atrás quando confrontadas com (situações de) conflito, doenças, desemprego ou desastres naturais”, ressaltou o administrador do PNUD, Achim Steiner.
De acordo com a agência, 83% dos indivíduos em pobreza multidimensional moram em países da África Subsaariana ou do Sul da Ásia. Na primeira região, são 560 milhões de pessoas privadas de direitos básicos e serviços. Na segunda, o número chega a 546 milhões. A América Latina e o Caribe são o lar de 40 milhões de cidadãos que vivem nessas circunstâncias. Nos países árabes, o contingente é de 66 milhões. No Leste da Ásia e nações do Pacífico, 118 milhões. No Leste da Europa e Ásia Central, 4 milhões.
O PNUD também identifica um abismo entre zonas rurais e urbanas — 1,1 bilhão de pessoas em pobreza multidimensional moram no campo, ao passo que 200 milhões vivem nas cidades.
“A crescente desigualdade também ameaça o progresso. Em média, uma criança nascida hoje num país com alto (índice de) desenvolvimento humano pode esperar viver 20 anos a mais e estudar sete anos a mais do que uma criança nascida em um país com baixo (índice de) desenvolvimento humano. Essas estatísticas representam oportunidades perdidas para milhões (de pessoas). Isso não é inevitável”, afirmou Steiner.
Fonte: ONU Brasil