Um dos estados brasileiros mais afetados pelo atual surto de febre amarela é o Espírito Santo. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) enviou especialistas à unidade federativa para ajudar o governo local no combate à doença. Consultores trabalham ao lado das autoridades no monitoramento das populações de mosquitos e também na análise de dados de pacientes com casos suspeitos ou confirmados da patologia.
Morador do bairro Bela Vista, em Vitória, o porteiro Carlos de Jesus Santos, de 29 anos, teve seu nome incluído na lista de ocorrências suspeitas da arbovirose. Entre outros sintomas, ele apresentou icterícia, característica comum da doença que deixa a pele amarelada.
“Estou sentindo uma forte dor abdominal, que apareceu de repente. Não estava conseguindo comer nem beber água. Além disso, tive febre alta, vômitos e evacuação com sangue”, contou Carlos ao consultor em doenças crônicas e especialista em investigação de campo da OPAS, Lenildo de Moura.
Ao perceber que os sintomas não estavam passando, mesmo com a administração dos medicamentos prescritos em sua primeira consulta na unidade básica de saúde, o porteiro procurou novamente ajuda médica. Pela avaliação do quadro de sintomas e exames, Carlos recebeu a notícia de que poderia estar com febre amarela.
Após entrevistar Carlos, o especialista da OPAS levou todas as informações coletadas à Sala de Situação de Febre Amarela da Secretaria de Saúde do estado. Junto com especialistas, descartou a possibilidade de infecção pela doença. “Esses dados nos ajudam a definir se a transmissão é silvestre ou urbana. É um trabalho investigativo, que nos auxilia a definir qual é o tipo de vetor”, explicou Moura.
A Sala de Situação foi criada em janeiro deste ano, com o apoio da OPAS. O centro de controle é um espaço físico e virtual onde as informações são analisadas sistematicamente por um corpo técnico, que caracteriza a situação de saúde da população. A equipe conta com especialistas fixos, como médicos epidemiologistas e infectologistas, enfermeiros e biólogos.
Também trabalham no centro o consultor em Regulamento Sanitário Internacional da OPAS no Brasil, Matheus Cerroni, o assessor regional da OPAS sobre Doenças Transmitidas por Alimentos e Zoonoses, Enrique Pérez, e profissionais das pastas estadual e federal da Saúde.
Controle de vetores
Carlos Melo, consultor em arboviroses da OPAS no Brasil, tem acompanhado os esforços para o controle de vetores na região de Grande Vitória. “Viemos ver a estrutura da reposta ao surto no estado e compartilhar as melhores práticas para controlar a população de mosquitos”, explicou o especialista da agência da ONU.
Uma das formas de combater os mosquitos transmissores da febre amarela é a dispersão de inseticidas por meio de máquinas acopladas a veículos e por pulverizadores costais motorizados. O estado está cedendo esses equipamentos para o controle de vetores a diversas cidades afetadas — entre elas, Ibatiba, Serra, Nova Venécia, Cariacica, Guarapari, Vila Velha, Vitória e Viana.
Outra medida é a coleta de larvas e mosquitos, feita para detectar se eles carregam ou não o vírus da febre amarela. Caso o vírus seja detectado em mosquitos Aedes aegypti, é possível definir se há transmissão urbana. Até o momento, a disseminação da doença no Brasil é apenas silvestre, ou seja, feita pelos vetores Haemagogus e Sabethes.
Em Vitória, o trabalho de captura dos insetos é realizado pela Secretaria de Saúde do Estado e pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), com o apoio da Secretaria Municipal da Saúde.
A coleta é feita por dois técnicos ao longo de três dias consecutivos. Entre as ferramentas utilizadas, estão o puçá entomológico, o sugador — uma espécie de mangueira usada para aspirar mosquitos — e as armadilhas com gelo seco, desenvolvidas com um composto químico que atrai os mosquitos, isola o vírus e garante a qualidade da amostra até que ela seja analisada.
Fonte: ONU Brasil