15/01/2016 I A publicidade é comprovadamente eficaz na sedução das crianças, levando muitas delas ao um consumismo desenfreado, com o qual os pais têm dificuldade de lidar. Uma pesquisa do Portal Meu Bolso Feliz feita em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), e divulgada em julho de 2014, revelou que 52% das pessoas ouvidas afirmaram já ter comprado produtos para os filhos, mesmo sabendo que essa atitude iria comprometer o orçamento da própria família.
Como lidar os anseios consumistas das crianças, especialmente em meses de férias, quando elas costumam ficar mais expostas à publicidade na televisão, frequentar mais shoppings e ainda têm como apelo a novas compras a proximidade da volta às aulas ? A seguir apresentamos os pontos de vista de duas psicólogas sobre o assunto:
Luiza Pinheiro é graduada em Pedagogia pela UFMG, especialista em Psicanálise com Crianças e Adolescentes pela PUC-MG, especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UEMG, e Mestranda em Psicologia pela UFMG. É sócia da Clínica Base, onde é referência da em projetos relacionados à infância.
Deve ser mesmo ruim ver amigos embarcando em uma instigante aventura de férias e ter que ficar para a próxima. Ou mesmo provar um vestido que nos caiu como uma luva e deixá-lo na vitrine à espera de outra que certamente ficará com ele. No entanto, desde a invenção do cartão de crédito e de seus atraentes parcelamentos, muitas frustrações assim têm sido cada vez mais evitadas, melhor dizendo, adiadas.
Tudo bem se a compra num momento de ímpeto for mesmo compensadora, mas geralmente não é. Cartões não são mágicos e a conta chega, sem um centavo de desconto e sem um minuto de tolerância após o vencimento. Assim, são muitos os casos em que as lembranças das tais férias perderiam a graça e o vestido mal serviria para encher o espelho de razões para nos recriminar.
Há mais de dois séculos, Freud, o conhecido pai da psicologia, já definia maturidade como a capacidade de se adiar um prazer imediato por um prazer maior no futuro. Já o marketing, que veio bem depois, percebeu que, desse modo, as pessoas refletiriam muito antes de comprar um produto. Por isso, simplesmente inverteu a máxima para: “Compre já e pague depois!”, seguida de tantas outras mensagens “anti-frustração”: “Não fique esperando!”, “Seu momento é agora!”, “Não perca esta oportunidade!”. E o martelar desses apelos é tanto que parecem ter revestido o conceito de frustração como algo essencialmente ruim quando, na realidade, ela é uma grande aliada da educação.
E quando, criadas neste cenário, multidões de crianças seguem sendo diagnosticadas como hiperativas, ansiosas, deprimidas, compulsivas, entre tantos rótulos, longe de associar uma coisa com a outra, o marketing da medicalização deita e rola antevendo o recorde de vendas de drogas para “acalmar” tantas angústias. Se, por um lado, é importante aprender a suportar a frustração, por outro, é preciso também que o marketing seja frustrado em sua ganância de fazer dinheiro a qualquer custo, principalmente quando se dirige à infância. E que seja proibido de associar felicidade com comprar, porque isso não faz sentido, além de causar um efeito geralmente oposto na vida dos que se entregam aos hábitos consumistas.
“Nãos” e limites podem ser dolorosos, mas no colo macio e entre as palavras acalentadoras dos pais, a experiência se torna mais fácil, podendo até ser incluída entre as boas lembranças da infância. Assim, não é preciso esperar que as crianças que forem frustradas hoje, claro que de um modo gradativo e protetor, terão mais facilidade em lidar com as frustrações naturais da vida no decorrer do tempo.
Se existe alguma possibilidade de se associar felicidade com comércio, esta só pode ser a capacidade de conter o impulso da compra, mantendo nosso dinheiro sob controle e nossos projetos cada dia mais próximos de serem realizados. Quem, nestas festas, em lugar de se entregar ao consumo, avaliou suas reais necessidades e inventou ideias simples (e consequentemente personalizadas) para demonstrar seu amor aos filhos e pessoas queridas, levou a melhor.
Nada substitui o gosto de vencer a pressão consumista, a alegria de ter agradado mais por muito menos e de poder começar o ano sem dívidas. Seguramente, isto tem muito mais a ver com felicidade, paz, prosperidade, saúde, alegria e todas essas maravilhas que o marketing promete mas, de fato, não entrega.
Fonte: Envolverde
Hoje a tecnologia tem grande participação em nosso modo de vida. Trabalho e lazer envolvem aparatos tecnológicos. E a principal característica das tecnologias digitais é a facilidade, a praticidade para fazer as coisas, para encontrar informações, etc. Os gadgets nos colocam tudo à mão e habituados a isso, esperamos que todas as outras coisas da vida aconteçam com a mesma facilidade, mas nem sempre é assim.
Devido a essa maneira como nos acostumamos a nos relacionar e a lidar com as coisas, vivemos em um regime guiado pelo imediatismo. Tudo tem que ser “pra já”, mas de preferência, “pra ontem”. O tempo de trabalhar para conseguir o que deseja e o tempo da espera não são mais valorizados, e muitas vezes nós não aceitamos esperar. Nossas crianças, que fazem birra quando não têm sua vontade atendida, são a prova disso.
Claro que a birra já existia antes da sociedade ser configurada da forma como está hoje, mas a situação atual é mais grave. As crianças não são ensinadas a esperar, pelo contrário. São ensinadas que tudo é possível, que os pais farão até o impossível pelo bem-estar delas e para agradá-las, e que elas podem ter o que quiserem no momento que quiserem. Isso faz com que muitas delas não conheçam o sentimento de fracasso, de falha, de falta. E quando são obrigadas a lidar com isso – porque todos somos, em algum momento da vida – não sabem como fazê-lo.
A mídia publicitária sabe bem como manipular essa urgência que sentimos hoje, principalmente quando se trata de vender para as crianças. É importante estabelecer limites para os filhos nessas horas. Mesmo que você possa comprar o desejo de consumo do seu filho, pondere se ele já não ganhou presentes demais naquele ano, se ele precisa realmente daquele brinquedo, ou ainda, mesmo que você tenha a intenção de comprar, faça-o esperar alguns meses. Somente vivenciando os sentimentos nós podemos aprender a lidar com eles. A criança deve ter contato com todos os tipos de sentimentos ao longo do seu desenvolvimento para aprender a reconhecê-los e a controlá-los. Uma pessoa que se conhece bem e sabe lidar com todos os sentimentos é uma pessoa mais segura, mais centrada e mais feliz.
Não conseguiremos evitar que nossos filhos vivenciem a frustração e outros sentimentos difíceis a vida inteira. Portanto, é melhor que eles aprendam a lidar com isso ainda na infância, conosco ao seu lado para dar suporte e acompanhá-los nesse processo importantíssimo de amadurecimento.
Fonte: Consciência e Consumo
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