Que tal forrar os armários da cozinha com banana? Ou revestir o piso com pupunha? Ou colocar casca de coco nas paredes? Pode parecer estranho, mas essa é a proposta dos pequisadores que buscam alternativas ambientalmente melhores para substituir os materiais tradicionalmente usados na construção e na decoração das casas.Um desses exemplos é o compensado de pupunha, espécie de palmeira cultivada para a extração de palmito. Geralmente, esta árvore perde a produtividade após quinze anos, e sua altura inviabiliza a colheita de palmito. Então, é cortada, e sua casca vira lixo, segundo Bernardo Ferracioli, da Fibra Design Sustentável, empresa que produz o compensado. De acordo com ele, o resíduo, que ficaria apodrecendo no solo da plantação, podendo atrair fungos e bactérias, é aproveitado pela empresa para a produção de peças de espessura variável. As ripas obtidas do caule da pupunha são trabalhadas e coladas com uma resina de origem vegetal, biodegradável e atóxica. ?Ela possui a aparência de uma sucupira preta ? madeira nobre da região do Cerrado. É um material muito bonito, mas pesado e resistente?, diz Ferracioli.Segundo Ferracioli, por ser produzido em escala reduzida, o produto é um pouco mais caro que suas alternativas tradicionais, mas possui a vantagem de ser ecologicamente correto, por contribuir para a redução do volume de lixo produzido no país e por ajudar a fixar o gás carbônico (CO2), combatendo desta forma o aquecimento da Terra. A emissão desse gás na atmosfera é responsável pelo aquecimento global, um dos problemas mais graves enfrentados pela humanidade atualmente. Além disso, a utilização de compensado de pupunha também contribui para a redução da pressão sobre as florestas nativas para obtenção de madeira. O desmatamento é um problema sério no Brasil, uma vez que 75% de nossas emissões de CO2 são provenientes da derrubada de árvores. A produção da pupunha e posterior venda dos resíduos das árvores improdutivas também geram renda extra para pequenos produtores rurais, agregando, ainda, um valor social ao produto. Por essas razões, o compensado de pupunha recebeu, em 2005, o prêmio alemão iF Awards, considerado o mais importante prêmio de design do mundo, na categoria novos materiais.Lâmina de fibra de bananeiraOutro produto que vem ganhando destaque é o BananaPlac, feito a partir do refugo da produção de banana. De acordo com Ferracioli, a cultura da banana gera um grande volume de resíduos, já que os produtores descartam a planta inteira após a retirada dos primeiros cachos e depositam na plantação, para a decomposição natural. Esse processo traz problemas como a proliferação de fungos que causam doenças no bananal, além da emissão de metano, um dos gases responsáveis pelo agravamento do efeito estufa.O material obtido após a transformação das fibras de bananeira é de espessura fina e pode ser tingido. Em geral, é aplicado como revestimento em móveis e paredes, algo parecido com a fórmica. ?O BananaPlac é muito versátil e certamente ainda não temos a visão de todas as aplicações possíveis para o material. Hoje, a utilização mais viável economicamente seria a de revestimentos, mas já utilizamos o material na produção de capas de cadernos e a aceitação do mercado tem sido ótima?, afirma Ferracioli. Consumo consciente na construção civilExistem diversos materiais novos, com baixo impacto ambiental, como as pastilhas de revestimento feitas com a casca dura do coco da Bahia. Outro exemplo é o concreto que utiliza isopor e garrafas plásticas em sua composição e que chegou a ser premiado, já que impede o descarte desses produtos que ocupam grandes volumes em lixões e aterros. Também há um revestimento feito a partir de cacos de cerâmica moída e reaproveitada. No processo de esmaltação desse tipo piso, aproveita-se também vidro de lâmpadas fluorescentes descartadas e descontaminadas.De acordo com Ferracioli, a procura por materiais ecológicos cresce ?a cada relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), a cada furacão nos EUA?. ?As pessoas têm absorvido essa preocupação com a sustentabilidade. Os últimos três anos foram a virada nesse sentido. Hoje é difícil ver um arquiteto que não pergunte sobre materiais sustentáveis para elaborar um projeto?.Fonte: Instituto Akatu (www.akatu.net),com base em matéria publicada.