Para resgatar e valorizar a cultura do artesanato local como uma alternativa de trabalho e geração de renda, o Programa de Desenvolvimento da Renda Renascença está reunindo mulheres entre 18 e 60 anos, que se dedicam à arte deste tipo de renda na região do Cariri paraibano. O programa foi implantado a partir de um mapeamento, realizado em 2000, que apontou a atividade artesanal da renda Renascença como uma das únicas fontes de receita para diversas famílias da região, entre as mais secas e pobres do país, e traçou o perfil das rendeiras e seus trabalhos.
A partir do programa, surgiu a Associação das Rendeiras do Cariri Paraibano e foram desenvolvidas oficinas em escolas para jovens entre 12 e 18 anos. Nas oficinas profissionalizantes, as mulheres ensinaram aos jovens o ofício da renda e repassaram um pouco da cultura, das crenças, dos costumes e das tradições do povo nordestino. Em menos de um ano, mais de 80 pessoas foram capacitadas em 60 tipos de pontos de renda Renascença. O projeto também possibilitou uma melhora na qualidade dos produtos e ofereceu orientações sobre negócios às rendeiras envolvidas.
Hoje há seis associações de rendeiras nos municípios de Monteiro, Zabelê, São Sebastião do Umbuzeiro, São João do Tigre e Camalaú, no semi-árido do Cariri. Para eliminarem os atravessadores, as mulheres se reuniram para discutir formas de valorização e comercialização de seus trabalhos e buscaram apoio do poder público local. No Projeto Rendas da Paraíba, foram doadas cinco sedes em Monteiro, Zabelê, São Sebastião do Umbuzeiro, Camalaú e São João do Tigre. Cada grupo tem 50 mulheres.
Além das novas sedes, o programa ofereceu cursos, maquinários e aperfeiçoamento para a qualidade do trabalho. As mulheres também participaram de aulas de associativismo e cooperativismo, nas quais aprenderam sobre impostos e deveres dentro de uma cooperativa. Tiveram ainda aulas para inovação de seu produto: no início, algumas sabiam apenas quatro ou cinco pontos e hoje dominam 120. Com mais qualidade e variedade no trabalho, dependendo do mês, a renda pode chegar a meio salário mínimo.
Uma das principais dificuldades do grupo, no entanto, é a comercialização dos produtos, geralmente vendidos em feiras e eventos. Para superar o problema da venda dos trabalhos, as rendeiras passaram a analisar as melhores estratégias de comercialização. Já enviam encomendas para os Estados Unidos e participaram de criações de peças da grife Cavalera. Até junho de 2006, cerca de 170 rendeiras de São João do Tigre conseguiram 50 mil reais em vendas.
João Bosco da Silva, gestor do Programa de Desenvolvimento da Renda Renascença e coordenador do Sebrae da cidade de Monteiro, conta que antes do programa já havia cerca de 450 rendeiras no estado. Agora são aproximadamente quatro mil bordadeiras. ?Muitas estavam desistindo desse ofício por falta de valorização e achavam que não compensava exercer essa atividade. Hoje as associações têm sedes próprias e são informatizadas e conseguem vender grande parte de seus produtos em feiras. Houve a publicação do livro Renda Renascença – Uma memória de ofício paraibana, de Christus Nóbrega, editado pelo Sebrae e pelo governo da Paraíba, que conta a proposta do trabalho da renda Renascença”, revela João Bosco.
Renda Renascença: uma atividade que passa de mãe para filha
Fátima Suelene de Oliveira Medeiros, presidente Associação dos Artesãos de São João do tigre (Assoarte), que reúne 150 rendeiras, explica que a maioria das mulheres da associação é agricultora. No mês em que estão na roça, ganham menos na renda por terem pouco tempo para se dedicar ao trabalho. Em dezembro, costumam ganhar meio salário mínimo. As bordadeiras que passaram pelos cursos de empreendedorismo, associativismo, cooperativismo e inovação do produto foram multiplicadoras, transmitindo as aulas para outras da associação.
A maioria das bordadeiras aprendeu a arte da renda Renascença com suas mães e avós. Maria José Gonçalves Monteira, 38 anos, foi ensinada pela avó e começou a fazer renda aos sete anos de idade. Domina 100 pontos da renda e foi professora de três turmas com jovens da sua comunidade. O marido está desempregado e o bordado ajuda a manter os dois filhos. Há dez anos está na Associação Comunitária das Mulheres Produtoras de Camalau, Maria José Ferreira Raposo, 61 anos, aprendeu a bordar com as colegas e a avó e hoje sabe 70 pontos da renda Renascença. “É um trabalho em que a gente vê que é muito gostoso. Dependendo do período, consigo tirar até 150 reais por mês. Costumo vender meus produtos em feiras da Bahia, Minas Gerais e até na capital paraibana. Eu gosto do bordado, porque mexe com a inteligência e cada ponto é uma história”, ressalta.
Fonte: Portal Setor 3 (www.setor3.com.br), com base em matéria de Susana Sarmiento.